08 julio 2007

A nossa realidade

Antes vivíamos espontaneamente, com a sensação de ter todo o tempo do mundo. Amanhã era apenas um prolongamento lógico do dia de hoje. Os sonhos não tinham presa. A vida semelhava-se à linha do horizonte, sem um fim aparente. Tal vez nessa ideia ilusória tenhamos perdido tempo, o necessário para concretizar os nossos sonhos, talvez tivéssemos que ter sido mais calculistas e pragmáticos. Hoje a realidade mudou e cada manhã o espelho lembra-nos o passo dos anos; o inevitável caminho para um fim para o qual não estamos preparados. Agora os sonhos ficam impacientes, o receio de perde-los, por vezes, impõem-se à própria vivência. Gastamos energia e emoções em substituir uns sonhos por outros, tentando convencer à nossa alma de que essa é uma opção igualmente satisfatória. Viver transforma-se num comboio de alta velocidade, em que o que interessa é chegar a horas às paragens mais importantes. Perdemos assim, os recantos inexplorados, os locais imaginários, a aventura de viver um rio de vida.
Mas amanhã é outro dia, e todos sorrimos, não nos conhecemos, apenas partilhamos sorrisos sociais que escondem o nosso sofrimento. Dentro deste jogo social, vamos ficando cada vez mais vazios. As vezes sentimo-nos como simples transportadores de um corpo que assumiu demasiadas responsabilidades sociais. E é um esforço levar esse corpo para mais um dia no local de trabalho, mais uns encontros sociais, mais uma mudança de clima que não estava nas previsões…
Agora estamos presos ao nosso comboio, aos nossos sonhos e aos desejos dos outros.
Mas sorrimos, que ninguém suspeite a nossa angustia de viver.

01 julio 2007

Deixa-me falar contigo

Caminho tentando não encontrar ninguém, espero que ninguém me reconheça. Hoje acordei para ficar na minha solidão, na minha medíocre existência.
Passei o dia a pensar em ti. Até ontem a vida só fazia sentido com a tua presença. Hoje, não estás, foste brutalmente arrancada da minha vida. Não me deste qualquer explicação, apenas um “já não te amo”. A verdade é que eu também não me atrevi a colocar questões, fui covarde….sei, mas não conseguia ouvir-te dizer mais nada. Após uns segundos, em que fiquei petrificado a tua frente, saí da sala como se tivesse presa por chegar a algum lado; disse um:”Ta bem…” e fui-me embora.
Agora arrependo-me, gostava de ter perguntado o porque ou, desde quando? ou, há outra pessoa?....mas fui tão covarde (..afinal tinhas razão, sou um fraco). Preciso de respostas, não aguento estas questões a repetirem-se uma e outra vez na minha cabeça, vou ficar louco!, onde estás? Que fazes? Porquê não estás aqui?...é difícil, isto é muito difícil…dava qualquer coisa por ter-te ao meu lado, pelos teus beijos, as tuas carícias, o teu cuidado comigo…
Sei que as vezes fui injusto, os meus ciúmes fizeram-te chorar em muitas ocasiões. Esse teu choro profundo, de desilusão com a vida, de solidão. Era nesses momentos em que eu sentia o quanto estava a ser estúpido; olhava para ti, para a tua tristeza sentida, genuína, e só me apetecia abraçar-te, beijar-te e pedir-te mil desculpas. Tu amavas-me, sem dúvida, com uma humildade que fazia de ti a mais bela portadora do sentimento amor.
Ontem, cometi um grande erro, eu sei, não devia ter-te batido, mas não consegui controlar-me, foi o álcool, a minha estupidez, …oh! Desculpa, por favor, desculpa…
… aqui estou eu, vagueando pela cidade, a procura de não sei o que ou, talvez, a tua procura. Porque não admiti-lo, ainda que me custe, é verdade…já entrei em todos os locais que costumas frequentar, e até naqueles que nem sei se alguma vez entraste…por favor, atende os meus telefonemas, não podes fazer-me isto, deixa-me falar contigo…