25 octubre 2007




Já ninguém fala de nós, ou, pelo menos não o fazem à minha frente. Evitam falar de ti como se se tratase de uma morte. Não, nem isso! Os mortos têm passado! E eles tentam fazer de conta que não existes, e quem sabe, talvez, nunca tenhas existido…é ridículo!.
Pretendem que continue a viver com um “…a vida é assim…” ou “…há que continuar…”. Tiraram-me o direito de chorar a tua perda, banalizam a tua ausência, reduzindo-a a um insignificante acidente no percurso de uma vida. São loucos?? Não tenho o direito de sofrer??, afinal , isto é fácil e eu é que decidí afundar-me nesta tristeza por excesso de estupidez??
Não é justo, por vezes tenho vergonha de estar triste e sofro, engulo e suporto em solidão, com a sensação de estar a ser um extraterrestre de sentimentos; porque não consigo “esquecer”, “sair”, “divertir-me”, “entreter-me”, …
Ficam incomodados com a minha tristeza, tentam ignora-la ou apressa-la, num esforço inútil de se verem livres do confronto com o meu sofrimento... ou com o deles?.

18 octubre 2007


Que mistério é este que nós une e afasta, como marionetas de um teatro qualquer, numa rua da nossa cidade.

Que mistério é este que olha à volta de mim e só vê a lágrima previsível numa alma cansada.

Que mistério é este silêncio, que deforma os dias em desertos vazios de areias, cores, calores,…
Que mistério é a noite imensa, imensa como o esquecimento.

Que mistério é a vida que aparece como uma ameaça tão inevitável como a morte...

Que mistério é aquilo que escrevo depois de tê-lo perdido.

Que mistério é esta humanidade de escravos de nós próprios.

Que mistério é esta tristeza, porque embora tudo mude, nada muda.

Que mistério é este que ainda nos move...