21 diciembre 2009

INVERNO

Hoje está um dia daqueles cinzentos, chuvosos e frios em que tudo está desconfortável e molhado, as roupas, as mãos que cumprimentamos, o chão da rua, o chão da entrada de casa, os cabelos, os carros, o ar que respiramos, o vento que mexe o guarda-chuva, os vidros das janelas, até as almas estão desconfortáveis e molhadas, obrigadas a resguardar-se, a ficar em casa, reservadas, no silêncio do diálogo interno.

Hoje o tempo é aborrecidamente lento e pesaroso…e eles…também já não estão aqui…
Espelhámo-nos na vulnerabilidade dos outros, na finitude, na partida, no desconhecido do destino…, curiosamente, o inesperado gesto amigo e, estamos vivos!

14 septiembre 2009


Maputo (Na hora da despedida)
POEMA MESTIÇO
escrevo mediterrâneo
na serena voz do Índico
sangro norte
em coração do sul
na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum mundo
hei-de
começar mais tarde
por ora
sou a pegada
do passo por acontecer
Mia Couto

09 septiembre 2009

Mozambique, ilha da Inhaca

20 agosto 2009

Outra vez perguntaram por ti

Outra vez perguntaram por ti, onde andarás? Que estranha loucura te leva tão longe? Que estranho mundo te invade e te domina?
Sofrer? Nem querem pensar que possas estar a sofrer. Oxalá esse mundo teu seja bom, oxalá as noites sejam quentes, oxalá não passes fome e alguém te cuide e reconheça o medo debaixo da pele de Quixote.
Sabes? As vezes, nos sonhos, tu regressas e sorris e olhas para eles com carinho, mas nunca te arrependes, porque continuas nesse mundo teu; e eles não se importam, porque já nada é mais importante do que terem-te a sua frente.
E escrevem para se aproximarem de ti, num acto desesperado para tentar alguma ligação mágica que te devolva.

04 julio 2009

MAIS UMA CARTA QUE TE ESCREVO

Hoje reparei na quantidade de cartas que te tenho escrito e que tu nunca vais ler. Desta maneira tenho conversado contigo, uma estranha forma esta de conversar quando ninguém nos ouve, mas enquanto escrevo tu ficas perto de mim, à distância que separa a caneta do papel. A medida que transcorre a escrita, as palavras vão-me aproximando ou afastando de ti e vou-me deixando levar por esta ondulação que eu próprio dirijo.
Hoje queria ver-te, com tantas ganas que o facto de não te ter visto criou-me a mais terrível das angústias. Nem imaginas o difícil que é viver com a tua ausência. Mas eu posso “sou forte”, é isso que dizem os outros, pois eles não sabem, não chegaram a conhecer a minha fragilidade como tu a conheceste, lembras-te? Incomodava-te tanto! . Tu conheces melhor que ninguém a minha dificuldade para falar dos meus problemas. Sou do tipo de pessoa a quem parece que nunca nada de mau acontece, sempre com a minha boa disposição e o meu sorriso social para os outros. As vezes penso que devia ter feito como dizia o escritor “Não te confessarei o meu sofrimento, porque ele te faria desgostar de mim”.

Para além das cartas que te escrevo mantenho outros pequenos afazeres pelos quais continuo a minha existência ligado a ti. Ouço as músicas que nos uniam e imagino como seria se nesse momento estivesses a ouvi-las comigo, fecho-me no quarto, deito-me e recordo como tu me lias antes de adormecer. Tenho cuidado a minha aparência, sei o tipo de roupa que gostavas que eu vestisse e podes, quem sabe, um dia ver-me de longe ou vir ter comigo, e, se isso acontecer, não quero que encontres nada estranho.
Também tenho tentado fomentar os aspectos da minha personalidade dos quais gostavas tanto. Sou melhor pessoa, mantenho-me alegre e optimista, defendo-me melhor.

Hoje, se estivesses aqui, falar-te-ia de que a vida decidiu mostrar-me o seu rosto menos agradável. Talvez um dos momentos mais angustiantes da minha existência. Eu aguardo, como tu me ensinaste, com a teoria de que o tempo põe tudo no seu lugar, só é preciso deixa-lo decorrer à velocidade que ele decida. Entretanto fico aqui, tentando não desesperar, um dia de cada vez.
Vês? Eu continuo a pensar em ti, embora saiba que não voltarás, como dizia o poeta:

“Ah silenciosa!
É esta a solidão de que tu estás ausente.
Chove. O vento do mar caça errantes gaivotas.
A água anda descalça pelas ruas molhadas.
Daquela árvore se queixam, como doentes, as folhas.
Abelha branca, ausente, ainda zumbes na minha alma.
Tu revives no tempo, fina e silenciosa.
Ah silenciosa!”

28 junio 2009

Há cidades lindas, cidades culturais, cidades cosmopolitas, cidades románticas, cidades acolhedoras,...mas poucas são as cidades que reúnem tudo isso e ainda, têm Van Gogh...
Amsterdam...adorei!!

23 junio 2009

Sempre apareces pela tarde
enquanto a noite cai sobre o mundo.
Perdemos mais um crepúsculo
enquanto o sol se deitava.

Sempre aparecias ao fim da tarde.
Recordo-te com a alma apertada
com essa tristeza que me conheces,
que de mim te afastava.

Ninguém nos viu mais de mãos dadas
enquanto a lua acordava,
porque sempre aparecias pela tarde
quando ainda te esperava.

Nunca mais falamos ao fim da tarde,
foi esse o nosso destino,
demorei-me na minha infelicidade
e nele viajou a vontade.

22 junio 2009

Esta morte parcial foi necessária para apreciar que as rosas não ficam feias com espinhas,
as rosas embelecem as espinhas.
Esta viagem da qual voltamos com a alma erguida, que ressurgiu da morte diária.
Esta morte parcial e necessária.
Assim, ante a porta fechada, como um pedinte,
de quem nos feriu a alma, batemos pedindo esmolas de ternura
Depois desta morte parcial e diária,
apareço com o coração alargado, como um sorriso,
com um bater intenso,
porque a vida é um rosal quando a alma desperta.
Alguém me diz,
não sei porque voltas, com os pés inseguros e cheios de bolhas,
tu, que te tinhas perdido para sempre.
...ainda há almas que não vem a primavera,
ainda há almas com demasiadas espinhas,
almas em viagem.

11 marzo 2009

O Homem e a Mulher

O homem é a mais elevada das criaturas.
A mulher, o mais sublime dos ideais.
Deus fez para o homem um trono; para a mulher fez um altar.
O trono exalta e o altar santifica.
O homem é o cérebro; a mulher, o coração.
O cérebro produz a luz; o coração produz amor.
A luz fecunda; o amor ressuscita.
O homem é o génio; a mulher é o anjo.
O génio é imensurável; o anjo é indefinível;
A aspiração do homem é a suprema glória;
a aspiração da mulher é a virtude extrema;
A glória promove a grandeza e a virtude, a divindade.
O homem tem a supremacia; a mulher, a preferência.
A supremacia significa a força; a preferência representa o direito.
O homem é forte pela razão; a mulher, invencível pelas lágrimas.
A razão convence e as lágrimas comovem.
O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece e o martírio purifica.
O homem pensa e a mulher sonha.
Pensar é ter uma larva no cérebro; sonhar é ter na fronte uma auréola.
O homem é a águia que voa; a mulher, o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço e cantar é conquistar a alma.
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra; a mulher, onde começa o céu.

Victor Hugo

27 febrero 2009


Há coisas...

Há coisas que só se deveriam falar em raros momentos de intimidade.


Há coisas que nos envergonhamos de confessar e…não confessamos.


Há coisas das quais nos arrependemos mas que sabemos que teríamos que as fazer, se nunca as tivéssemos feito.


Há coisas que só são de nós e que deveríamos relembrar enquanto não envelhecemos.


Há coisas que magoaram tanto que é com certo espanto que comunicamos que já deixaram de doer.


Há coisas que não entendemos, não compreendemos e…ainda bem que assim é.


Há coisas que ainda nos revoltam para nos lembrar que insistimos em viver à nossa maneira.


Há coisas que contamos e nunca nos ouvem, porque?


Há coisas que imaginamos tão maravilhosas que preferimos não conhecer .


Há coisas que continuam a ser sonhos, porque é fundamental não deixar de sonhar.


Há coisas demasiado delicadas para se pensar nelas, muito menos ainda para delas se falar.


Há coisas das quais nos esquecemos, por não conseguir vivermos com medo ou por não conseguir suportar a raiva.


Há coisas que todavia desejamos que continuem a surpreender-nos.


Há coisas impensáveis, extraordinárias e incomparáveis.


Há coisas que não mudam, como reivindicar a necessidade de ser nós próprios.

10 febrero 2009

Adaptação da peça que rendeu o prémio Pulitzer ao dramaturgo John Patrick Shanley.
Que atire a primeira pedra aquele que nunca agiu com alguma dúvida...
Que atire a primeira pedra quem nunca foi intolerante...ou xenófobo...ou racista...
Que atire a primeira pedra...

01 febrero 2009