17 abril 2008


Viagem à memória


Ontem lembrei-me de ti. Não me perguntes o porquê, não era um dia especial, não vi uma fotografia tua, há muito tempo que não ouço falar de ti…, talvez a chegada das tardes solarengas, a primavera, o calor, …, pode ter sido tudo isso, quem sabe? É um mistério o modo como actua a nossa memória, as vezes o que mais nos faz lembrar uma pessoa é justamente aquilo que havíamos esquecido por ser insignificante, a última reserva do passado. Seja como for, o certo é que a tua imagem surgiu na minha mente interrompendo o meu contacto natural com a realidade e deixei-me levar… Foi mais uma viagem ao meu mundo subterrâneo. Passado tanto tempo da tua ausência, surpreendi-me pela serenidade que encontrei, os significados mudaram, não havia grandes paixões, a memória tinha temperado os sentimentos. Contudo, a tua lembrança tornou-se uma vivência intensa na qual os novos significados e a distância temporal obrigaram-me a olhar para ti de uma forma diferente. Dei por mim a compreender e aceitar comportamentos e atitudes que há alguns anos atrás foram suficientes para nos afastar. Foi assim que mergulhei num mundo fantástico, em que as novas memórias e a imaginação misturaram-se para criar um sonho quase real,...mas, já não eras tu, era a viagem desde ti até outra pessoa.

5 comentarios:

Luís Galego dijo...

Foi mais do que uma viagem ao seu mundo subterrâneo...foi um desabafo que nos indentifica no sentir...

Virgínia dijo...

A nossa memória é mesmo surpreendente, na forma como nos aproxima e afasta de nós e daqueles que fizeram parte da nossa história. Mas, o melhor de tudo, é que nós podemos reconstruir a nossa história, podemos transformar um triste acontecimento num canto, uma dolorosa experiência numa dança ou uma paixão numa pequena ingenuidade que já não magoa ou extasia, simplesmente nos faz sorrir. É bom saber que estes mundos subterrâneos se podem partilhar, que estas pequenas riquezas nos fazem sentir mais acompanhados e incluídos na humanidade. Gracias :)

Anónimo dijo...

Identifiquei-me com este post, fiquei a pensar nele e construí uma história que poderia ser esta (no fundo já todos tentamos, alguma vez, modificar o passado desde o presente,...e nunca da certo):

E assim foi, passados uns minutos estava a marcar o teu número no meu telemóvel. Atendeste como se o nosso último encontro tivesse sido ontem. Como sempre, nada perguntaste, continuavas a não querer saber de mim e, mais uma vez, senti o vazio que nos afastara.
Hoje, arrependo-me de ter transformado a tua lembrança no meu fantasma.

Anónimo dijo...
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Rui Spranger dijo...

Muito obrigado por finalmente pores mais um texto no teu blog. Acho que gostámos todos muito e, como sempre, acabamos sempre por nos revêr de algum modo através das tuas palavras.
Um beijo