10 diciembre 2008


Será que tu também gostas de escrever?


Às noites pergunto-me o que será que andas a fazer. Passou tão pouco tempo, apenas te conheço, só falamos aquele dia na fila do pagamento da livraria. Ainda não consigo perceber como consegui ter coragem para iniciar a conversa. Deve ser uma dessas situações que acontecem só uma vez na vida. Sempre me conheci como um homem tímido e pouco ousado quando se trata de iniciar uma conversa com o sexo oposto, mas contigo foi diferente. Poderia encontrar algumas desculpas para justificar a minha coragem ou excesso de curiosidade, sim, talvez foi apenas isso, um excesso de curiosidade. Gosto de lembrar como tudo aconteceu… eu estava a folhear alguns livros, adoro estar naquela loja, perco-me durante horas entre livros e músicas, é a minha forma de, como se diz agora, lidar com o stress, ou talvez, de justificar a vontade de não fazer nada após um dia de trabalho ou uma semana estafante. Pois bem, estava lá quando tu chegaste, cheia de luz, de movimento, aliás foi exactamente isso o que me chamou a atenção, tudo se tornava imóvel à tua volta, foi a tua forma de caminhar, de pegar nos livros das estantes, de falar com o empregado da loja, essa tua graciosidade que te faz tão diferente e especial. Não consegui deixar de olhar-te, acompanhei todos os teus movimentos até que, finalmente fizeste aquilo que por ser simples e descontraído, mais me encantou de ti, com um ar sereno e pragmático sentaste-te no chão à frente da estante dos livros de pintura e ficaste absorvida pela leitura. Foi inédito, ninguém, a não ser as crianças, se senta no chão de uma loja. A minha curiosidade ficou ao rubro, tinha que te conhecer, tinha que adivinhar o que se passava pela cabeça de alguém aparentemente tão diferente. E assim foi, pensei como me havia de aproximar e quando já quase estava rendido à minha timidez, um golpe de coragem e lá estava eu a tocar receosamente no teu ombro. A tua reacção foi tão extraordinária como o teu gesto; sorriste e olhaste para mim com uma mistura de delicadeza e suspeita, mas nunca deixaste de sorrir. Parecia aquele sorriso que oferecemos a uma criança que acaba de dizer a sua primeira asneira, ou pelo menos assim me senti eu, um miúdo ante a tua reacção cheia de gentileza e compreensão. Entreguei-te o meu cartão e fiquei à espera.
Ontem recebi o teu primeiro mail. Dizias que tinhas visitado minha página web e davas-me os parabéns, parece que gostaste das fotografias. Eu continuo estúpido, imagina, com dificuldade em encontrar a resposta certa, eu, o homem habituado a controlar-se emocionalmente, a ser pragmático e eficaz,…mas há algo em ti diferente, quase mágico, tenho esse pressentimento. Eu sei, tudo isto parece absurdo, não me atrevo a falar com os meus amigos nestes termos, aliás, nem sonham o que estou a escrever, nem tão sequer, que costumo escrever. Será que tu também gostas de escrever? Quais serão os teus passatempos? Qual será a tua profissão? Será que há alguém na tua vida? O que é que devo fazer? Coloco todas estás questões no próximo mail?
Bem, vou dormir, a almofada costuma ser boa conselheira. Boa noite minha desconhecida.

2 comentarios:

Anónimo dijo...

...O homem e o seu destino seguram-se um ao outro, evocam-se e criam-se mutuamente. Não é verdade que o destino entre cego na nossa vida, não. O destino entra pela porta que nós mesmo abrimos, convidando-o a passar...

Anónimo dijo...

Lindo...