23 octubre 2008

Não sei onde estás agora

Não sei onde estás agora. Talvez isso não faria com que algo estivesse diferente, ou talvez diminuísse esta angústia que traz o facto de não saber nada de ti. Resisto-me a aceitar que estás em lado nenhum. Gostava de ter-te aqui, ou ali, ou naquele local, ainda que nunca lá fosse ter contigo, mas seria tudo menos volátil, menos vazio.
Sei que quando estavas aqui, ou ali, ou naquele local e eu sabia que lá estavas, apenas te procurei, poucas vezes te telefonei. Tu também poucas vezes me telefonaste, mas o facto de estares ali, onde eu sabia que estavas e que talvez estivesses pensando e mim, ou tinhas pensado no dia anterior, ou que ao cair a noite ias lembrar-te de algum momento só nosso; isso, que nunca antes valorizei tanto como nestes momentos da tua ausência, isso, acredita, era suficiente para sentir que nunca estava só.
Pergunto-me o que será que eu fui na tua vida, qual o significado que a minha existência teve para ti. Será que consegui estar presente nos momentos em que mais me necessitavas? Será que esperavas mais de mim? Será que eu fazia tanta diferença na tua vida como tu fazes na minha?
Sabes? Tu não estiveste presente em muitos momentos difíceis da minha vida, contudo a opção foi sempre minha, porque sempre soube que bastava deixar transparecer um pequeno sinal do meu sofrimento e tu nunca me irias falhar. Hoje arrependo-me, perdi com aquela atitude, perdi a tua experiência da vida, a tua ternura e perdi, sobretudo, a oportunidade de demonstrar-te o quanto eras importante para mim.
Agora surpreendo-me à busca de ti e acordo da loucura de te procurar quando um pedaço de mim avisa ao resto do meu ser que o esforço é inútil. Subitamente o mundo torna-se imenso e eu formiga, frágil e insignificante, o suficiente para a minha existência só fazer sentido se eu voltar a procurar-te.

O Justo Valor das Coisas Presentes

Não julgues as coisas ausentes como presentes; mas entre as coisas presentes pondera as de mais preço e imagina com quanto ardor as buscarias se não as tivesses à mão. Mas ao mesmo tempo toma cuidado, não seja caso que ao deliciares-te assim nas coisas presentes te habitues a sobrestimá-las; procedendo assim, se um dia as viesses a perder, davas em louco rematado.
Marco Aurélio, in 'Pensamentos'

7 comentarios:

Anónimo dijo...

E esse lado nenhum, onde o/a outro/a ñ está, torna cada vez mais profunda e sentida a ausência, fazendo com que esteja em cada lugar e em todo o momento.
Perguntas há que só a procura incessante,a mais das vezes, feita na fonte, mesclada com o valor que o/a outro/a tem para nós, só assim, nos dará a resposta.
Bem certo é o adágio: "nunca é perdido um benefício feito"; assim como nunca é vão a oportunidade de mostrarmos aos outros a importância que eles têm para nós. A importância que aquele/a tem para nós.

"Sente-te e faz-te com sentido; procura e existe, relembrando que todos os momentos são bons para demosntrar aos outros e àquele/a a importância que tem para nós."

Só nos perdendo no outro nos achamos em nós, nesse labirinto que nos leva e faz descobrir emoções e sentimentos que ñ julgávamos possuir, ou sequer ser capazes de sentir.
Só nos achando em nós, nos fazemos e nos construimos, alicerçados e amparados pela presença daquele/a que, mesmo sem o ruído de um telofonema ou a sombra da presença, está lá e existe e, só por isso, somos, crescemos, nos construimos, e nos fazemos mais

Anónimo dijo...

Gostei imenso deste texto. O valor que algumas pessoas têm para nós e que não sabemos se elas, alguma vez, tiveram noção disso. Uma reflexão muito interessante. Parabéns!

Isabelle dijo...

O mais fantastico da vida é estar com uma pessoa que faz de pequenos instantes grandes momentos

Anónimo dijo...

"Precisamos de tentar chegar ao ponto de ver o que possuímos exactamente com os mesmos olhos com que veríamos tal posse se ela nos fosse arrancada. Quer se trate de uma propriedade, de saúde, de amigos, de amantes, de esposa e de filhos, em geral percebemos o seu valor apenas depois da perda. Se chegarmos a isso, em primeiro lugar a posse irá trazer-nos imediatamente mais felicidade; em segundo lugar, tentaremos de todas as maneiras evitar a perda, não expondo a nossa propriedade a nenhum perigo, não irritando os amigos, não pondo à prova a fidelidade das esposas, cuidando da saúde das crianças etc.
Ao olharmos para tudo o que não possuímos, costumamos pensar: 'Como seria se fosse meu?', e dessa maneira tornamo-nos conscientes da privação. Em vez disso, diante do que possuímos, deveríamos pensar frequentemente: 'Como seria se eu o perdesse?'"

Arthur Schopenhauer, in 'A Arte de Ser Feliz'


Mais uma vez, com os teus textos, proporcionas momentos de introversão profunda...sou teu fã incondicional :)

Luis

Anónimo dijo...

Si, que gran amor ese que perdimos, que gran amor aquel del que siempre nos acordamos. Mi culpa, no encontrar su mano en el camino; la suya, la de olvidar cuanto nos amamos.

Anónimo dijo...

Soubesse-me eu destinatário de tais palavras e te diria que estás em todo o lado: aqui, ali e, até naquele local onde ainda nao fui; dir-te-ia que tantos telefonemas estão à distância do meu dedo sobre o telefone; dir-te-ia que tantas mensagens estão ainda no mesmo telefone: escritas, preparadas e prontas para tas enviar, relembrando, em cada uma delas, um momento só nosso, sempre e todos eles preenchidos e enriquecidos pela tua graciosidade...
Soubesse-me eu destinatário de tais palavras e te diria que nao só à noite, mas durante a noite, ao amanhecer e em todo o dia, num ciclo natural e repetido, me lembro de ti, te vejo, te cheiro e te sinto em todo o lado e a todo o instante.
Soubesse-me eu destinatáio de tais palavras e te diria que nao fazes diferença na minha vida, antes és e fazes a diferença na minha vida.
Soubesse-me eu destinatário de tais palavras e nao te diria tao pouco.
soubesse-me eu destinatário de tais palavras...

Anónimo dijo...

Lamentar aquilo que não temos é desperdiçar aquilo que já possuímos
Provérbio Chinês